12 de outubro de 2012

Lembranças tiradas do baú

Dia 12 de Outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil e por isso justifica-se o feriado e o Dia das Crianças, uma comemoração meramente comercial, mas que que nos é inserido culturalmente e acabamos crescendo e passando para nossos filhos.

Particularmente, confesso que o "Dia das Crianças" está marcado na minha memória de maneira muito especial. São duas lembranças muito particular e que guardo com carinho na memória e no coração. 

A primeira quando lembro-me da minha avó sentada ao lado de um fogão à lenha, fazendo almoço para um batalhão de netos. Sim, éramos doze "dinho" - diminutivo de diabinho - , como meu avô carinhosamente nos chamava. Claro que destes doze, alguns já eram bem crescidos e este dia era apenas mais um na casa da Vó Dorvina, mas para os pequenos era um dia muito especial.

Minha avó colocava o feijão para cozinhar bem cedinho, quando lá chegávamos já podíamos sentir o cheirinho e aguçar o paladar lá do portão. Já sabíamos que a festa estava com meio caminho andado, bastava aguardar com paciência para começar a brincadeira que ela de maneira carinhosa preparava para cada um em especial.

Vó Dorvina sentava-se ao lado do fogão, após o feijão estar pronto e preparava um pirão - feijão com farinha, nada tem a ver com o Pirão jogador do Avaí. Este pirão tinha uma textura mais durinha para que ela pudesse modelar formatos de bichinhos. Ali naquele momento nasciam: aranhas, lagartixas, gatinhos, cachorros, dinossauros, enfim, tudo que ela de maneira simples e rústica e claro na sua maneira de ver o mundo era capaz de produzir. Depois carinhosamente pedia que nossas mães fizessem nossos pratos, os quais um a um era enfeitado com aqueles seus presentinhos. 

Com os pratos cheios de bichos e cada um sentado à mesa ela contava uma história onde vivia um monstro muito feroz que era capaz de comer tudo que encontrasse pela frente e por onde passava não deixava nada para contar história. Após fazer sua "preeleição" de almoço em forma de "estória infantil" ela dizia: Hoje os monstrinhos da casa são vocês, portanto, não deixem nada nesse prato para contar história". Não preciso dizer que realmente não sobrava nada nos pratos, nem mesmo os bichinhos que estavam ali apenas para servir de enfeites.

Cresci e passei estas lembranças para minhas filhas e inseri nelas o gosto pelo dia das crianças não pelo valor material, mas pelo valor cultural e a importância que este dia pode ter na vida das crianças, mesmo daquelas que não tem como receber algum presente. Tentei mostrar que de forma simples, porém com muito amor que é possível fazer deste dia um dia tão especial e tão esperado.

Hoje quando conto para uma criança ou mesmo contava para minhas filhas como era o meu dia das crianças, logo elas fazem aquela "carinha de nojo". E é verdade, parece algo sem higiene, mas logo lembro aos pequeninos que é o mesmo processo para se fazer os brigadeiros por exemplo. Não há como fazer "pão sem por a mão na massa". E pronto, depois de dar os exemplos elas logo percebem que o valor esta mesmo na ação de carinho.

Eu muitas vezes fiz isso para as minhas filhas, que hoje estão bem crescidas, mas espero que toda essas lembranças não se percam no caminho delas, assim como não se perderam no meu. Que elas possam transmitir esta forma de carinho para as suas gerações para que eu permaneça viva mesmo após ter partido, assim como a minha querida vó continua viva a cada momento em que as lembranças são tiradas do baú. Feliz aquele que mesmo depois de adulto consegue ainda ser criança. Feliz Dia das Crianças!

"... nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina." - Cora Coralina

ET - Esta é a primeira lembrança deste dia, a segunda contarei no post das 16h. Até lá!


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